Free radicals in the European periphery: ‘translating’ organic chemistry from Zurich to Barcelona in the early twentieth century

Sessão de 28 Novembro 2007, Júlia Gaspar.

Agustí Nieto-Galan,
”Free radicals in the European periphery: ‘translating’ organic chemistry from Zurich to Barcelona in the early twentieth century”,
British Journal for the History of Science, vol. 37, no. 2, 2004, p. 167-191

O autor justifica este estudo pelo facto dos grupos de investigação da primeira metade do século vinte em Espanha não serem conhecidos, exceptuando o Laboratório de Investigaciones Físicas de Blas Cabrera, de José Manuel Sánchez Ron e Antoni Roca-Rosell de 1993. Com este enquadramento, um dos objectivos do artigo é fornecer dados para avaliar se, a investigação liderada por Antonio García Banús (1888-1955) satisfaz os critérios de “escola de investigação” estabelecidos por Gerald Geison em 1981 e, de que modo, este caso da periferia europeia pode contribuir para uma compreensão geral de grupos de investigação ou “escolas de investigação” contemporâneas.

Terminado o curso de química em Madrid em 1910, no ano seguinte Banús obteve uma bolsa para preparar o doutoramento em Zurique, na ETH (Eidgenössische Technische Hochschule, Escola Politécnica Federal), com Julius Schmidlin, que se tinha tornado um elo importante da nova linha de investigação, os radicais livres. Os derivados dos organometais, outro assunto a que Schmidlin se dedicou, também interessou Banús. Esta actividade teve como resultado: artigos em co-autoria com Schmidlin publicados na Berichte der deutschen chemischen Gesellschaft; obtenção em 1912 do PhD, na Faculdade de Ciências da Universidade Central de Madrid sobre compostos de triarilmetil; admissão na Deutsche chemische Gesellschaft como membro estrangeiro.

A apropriação dos conhecimentos teve início em 1915, quando Banús foi nomeado professor de química orgânica na Faculdade de Ciências da Universidade de Barcelona. O ensino experimental que implementou deu os seus frutos logo nos anos vinte e continuaria nos anos trinta: Banús, em co-autoria com alguns discípulos, publicou os resultados da investigação nos Anales de la Sociedade Española de Física y Química em língua castelhana; os jovens iniciados na investigação em Barcelona deslocavam-se a outros centros europeus para preparar o doutoramento, a maioria na Universidade de Freiburg com Heirich Wieland, Nobel de química de 1928 e, também, em Paris, Estrasburgo, Queen’s College em Oxford, Estocolmo, ETH de Zurique, Edimburgo e Nova Iorque. A carreira universitária em algumas universidades espanholas: Barcelona, Sevilha, Salamanca, Santiago de Compostela, foi a via de profissionalização dos alunos mais dotados que se especializaram e obtiveram o doutoramento.

No início da guerra civil, em 1936, Banús deixou Barcelona mas a sua “escola de investigação” já há algum tempo tinha perdido o fulgor dos primeiros tempos, devido a dedicar cada vez mais tempo a outras actividades: compromissos institucionais e tradução de livros de divulgação e manuais.

Ao submeter o seu grupo periférico a avaliação qualitativa das 14 características propostas por Geison, Nieto-Galán esclarece como a maioria satisfaz os critérios de “escola de investigação”, sendo a 12ª, o exemplo que aponta para as que não foram satisfeitas. Relata além disso como, devido a dificuldades que foram surgindo, a cultura científica do centro passou a exercer uma força de atracção para os discípulos, deixando de actuar como uma referência para o líder. Colocado nesta posição secundária, o grupo de Banús foi moldado de forma particular conferindo-lhe “the character of an extended family with a particular scientific style” (p.189). Banús conclui que seria discutível atribuir a categoria de “escola de investigação” ao grupo de Banús, não havendo dúvida, porém, que conseguiu êxitos notáveis.