Trading Zone: Coordinating Action and Belief

Sessão de 12 Março 2008, Maria do Mar Gago.

Peter Galison,

"Trading Zone: Coordinating Action and Belief", in The science studies reader, Mario Biagioli (ed.), New York, Routledge, 1999, p 137-160

Neste artigo, Peter Galison começa por fazer uma análise das duas correntes que no século XX influenciaram a nossa forma de ver a construção do conhecimento científico (137-142p.) e depois propõe o seu, fundado no conceito de “coordenação local” (142-145p.). O seu modelo defende que a unidade da ciência é mantida não pela hegemonia de uma prática sobre a outra – como tentaram explicar as correntes anti-realistas do século XX – mas por um processo contingente de “coordenação local” que torna possível a troca de objectos de conhecimento entre as diferentes práticas. Para Galison, tanto os positivistas lógicos como os anti-positivistas pecam por tentar explicar a unidade da ciência de um ponto privilegiado (de acordo com uma “master narrative” como se diria em crítica literária). Se para os primeiros esse ponto era a “base de observação”, para os segundos era um “paradigma” teórico ou “esquema conceptual” (142p.). Ora, para Galison, não há “master narrative”. Cada tradição (teoria, experiência e intrumentação) tem vida própria.

Sendo assim, a construção do conhecimento científico faz-se quasi-autonomamente segundo as três práticas científicas. Estas funcionam como “sub-culturas” dentro da física, com diferentes ritmos de mudança, referências de demonstração, culturas de instituição, etc. Por vezes um processo de “coordenação local” faz com que estas sejam interceptadas por “zonas de troca”, gerando-se um complexo de pidgins e crioulos que torna possível a troca de determinados objectos de conhecimento. O exemplo histórico é o Rad Lab, um laboratório para produção de radares que na segunda grande guerra obrigou engenheiros e físicos teóricos a trabalhar no mesmo espaço (149p.). Por força da autoridade, por força de uma ideologia, foram criadas as condições locais ideais para a instituição duma trading zone.

Não é por acaso que Galison designa as três práticas de fazer ciência de sub-culturas. O termo “cultura” remete para a antropologia e para uma das suas categorias fundamentais: grupos de indivíduos que partilham entre si hábitos, comportamentos, valores e crenças. O objectivo de Galison pôr termo à ideia da “plasticidade” das tradições, que pretende reduzir o processo de troca a um “protocolo de linguagem” ou à “tradução” entre elas. Exactamente, porque constituem em si pequenas culturas, quando há trocas, não há “tradução” mas sim a possibilidade de “encaixe”, ou seja, a possibilidade de “coordenar as acções e as crenças” de cada uma das sub-culturas envolvidas.

Esta ideia de “encaixe” versus “tradução”, de “coordenação local” versus “homogeneização” é o coração da tese de Galison. Esta espécie de pragmatismo do “local” está presente em várias obras de Galison. É disso exemplo a tese sobre Einstein e a importância do seu emprego nas patentes para a descoberta da teoria da relatividade (Os Relógios de Einstein e os Mapas de Poincaré, 2005), ou a recente investigação sobre a relação entre a história da arquitectura e a história da ciência (The Architecture of Science, 1999).